23 polícias brasileiros condenados a 156 anos pelo Massacre de Carandiru
Passados mais de 20 anos da morte de 111 presos numa prisão de São Paulo, sentenças duras na primeira fase do julgamento
Um tribunal brasileiro condenou este domingo 23 polícias militares a 156 anos de prisão cada um pelo seu envolvimento na morte de 12 presos durante o massacre da prisão de Carandiru, em São Paulo, ocorrido em 1992, onde morreram 111 reclusos.
A sentença foi anunciada de madrugada pelo juiz José Augusto Nardy Marzagão e corresponde apenas à primeira parte do julgamento que está dividido em quatro etapas. Outros três polícias julgados nesta primeira fase foram absolvidos a pedido do próprio Ministério Público.
No conjunto do proceso irão ser julgados 76 agentes pelo massacre que aconteceu quando a policía entrou na prisão de Carandiru para acabar com uma luta entre fações rivais. Nenhum policía morreu durante o motim.
O caso do Massacre de Carandiru é tão complexo que só 26 dos 83 acusados estão actualmente a ser julgados. Os advogados de defesa dizem que os agentes estavam a cumprir ordens e que não há provas forenses para determinar quem matou os prisioneiros.
A acusação do Ministério Público diz que muitos dos presos foram assassinados à queima-roupa dentro das suas celas.
Os sete membros do júri do julgamento deram como provado que o grupo de polícias da Rota (batalhão da polícia de choque) armados de revólveres e metralhadoras, subiu ao segundo andar do Pavilhão 9 da prisão de Carandiru e matou a tiros 13 detentos.
No início do julgamento, a acusação falava em 15 presos mortos neste andar, mas a acusação pediu para que dois dos prisioneiros, mortos com armas brancas, fossem desconsiderados pelos jurados. Segundo o Mínistério Público, não era possível saber se eles foram mortos realmente pelos polícias militares.
Segundo a acusação, as mortes foram praticadas por uma acção colectiva, comandada pelo então capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos, na qual todos contribuíram igualmente "para praticar a barbaridade que praticaram", disse o procurador Márcio Friggi.
"Apesar de tardia, a sentença condenatória dos policiais que participaram do Massacre do Carandiru representa um importante recado da sociedade e da justiça brasileiras de que não é aceitável que policiais promovam fuzilamentos e depois inviabilizem perícias e apurações, seja removendo corpos, executando testemunhas ou forjando provas para garantir a impunidade dos crimes", disse à Folha de São Paulo o advogado Ariel de Castro Alves, do grupo Tortura Nunca Mais , que acompanhou o julgamento.
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