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quarta-feira, 14 de maio de 2014

14/05/2014 A mosca tsé-tsé e a sua família vistas à lupa da genética

A mosca tsé-tsé e a sua família vistas à lupa da genética

O genoma da mosca tsé-tsé foi sequenciado por um consórcio internacional, um trabalho que demorou uma década. A mosca tsé-tsé da espécie Glossina morsitans é uma das que transmite o parasita que causa a doença do sono.
Na África subsariana, 70 milhões de pessoas arriscam-se diariamente a ser alvo de uma picada dolorosa e perigosa da mosca tsé-tsé. Esta mosca pode ter o parasitaTrypanosoma brucei, que causa a doença do sono e é mortal. Agora, foi sequenciado o genoma de uma das espécies da mosca tsé-tsé, a Glossina morsitans. Um consórcio internacional encontrou 12.308 genes que são o código de fabrico de proteínas importantes na alimentação da mosca ou na produção do leite com que ela alimenta as suas larvas. Os resultados foram publicados ontem num artigo na revista Science e em mais 11 artigos nas revistas PLOS Neglected Tropical DiseasesPLOS One e PLOS Genetics.
“O nosso estudo vai acelerar a investigação com o objectivo de explorar a biologia invulgar da mosca tsé-tsé. Se compreendermos mais, seremos capazes de identificar melhor as fraquezas e usá-las para controlar a mosca”, defende Matthew Berriman, um dos principais autores deste projecto, que pertence ao Instituto Wellcome Trust Sanger, no Reino Unido.
A sequenciação ficou a cargo do consórcio Iniciativa Internacional Genoma Glossina, que envolveu 146 cientistas de 18 países diferentes. Os trabalhos iniciaram-se em 2004.
A doença do sono, ou tripanossomíase humana africana, é uma das 17 doenças tropicais negligenciadas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença existe em 26 países da África subsariana. Em 2012, foram registados 7216 casos. O país mais afectado é a República Democrática do Congo.
Além das pessoas, esta doença também afecta o gado. As moscas “causam um enorme fardo económico nos países com mais dificuldades, ao obrigar os agricultores a criar gado mais resistente à tripanossomíase, mas que é um gado menos produtivo”, explicou ainda Matthew Berriman num comunicado do instituto.
O parasita Trypanosoma brucei nem sempre consegue instalar-se nas glândulas salivares da mosca Glossina morsitans. Mas quando o faz, a mosca torna-se um vector de transmissão do parasita tripanossoma. Segundo a OMS, a doença tem duas fases. Na primeira, depois de uma pessoa ser picada e infectada, o parasita multiplica-se no sangue e nos gânglios linfáticos, causando dores de cabeça, febre e dores nas articulações.
Passadas algumas semanas, o tripanossoma consegue atravessar a barreira hematoencefálica – uma espécie de parede que normalmente impede organismos patogénicos que existem no sangue de infectar o cérebro. Quando o parasita consegue atravessar esta barreira, provoca os sintomas mais perigosos: mudanças de comportamento, distúrbio dos sentidos e a destabilização do ciclo de sono – esta é a razão do nome da doença. As pessoas podem ficar a dormir de dia e manterem-se completamente acordadas de noite. Os danos no sistema nervoso são irreversíveis e, se a doença não for tratada (à custa de medicamentos tóxicos), os doentes morrem passados meses ou anos.
O novo estudo genético revela que o genoma da mosca Glossina morsitans tem mais do dobro do tamanho do da mosca-do-vinagre. Apesar disso, sentir sabores não é o forte deste insecto: a equipa descobriu que a mosca tsé-tsé tem 46 proteínas importantes para detectar cheiros e 14 proteínas para detectar sabores, enquanto a mosca-do-vinagre tem, respectivamente, 58 e 73 proteínas. O sabor do açúcar passa completamente despercebido à mosca tsé-tsé e os investigadores interpretam este facto dizendo que tanto o macho como a fêmea só se alimentam de sangue.
Para encontrar alimento, a mosca tsé-tsé tem muitas proteínas que detectam dióxido de carbono, exalado pelos mamíferos. E, enquanto se alimenta, 250 proteínas que tem na saliva impedem o sangue de coagular e não deixam que reacções imunitárias produzidas pela vítima das suas picadas terminem a refeição antes de tempo – a mosca suga uma quantidade de sangue equivalente ao seu volume, por isso leva tempo até beber tudo o que precisa.
O artigo na Science também identifica várias aquaporinas – proteínas que funcionam como canais membranares de transporte de água – e que permitem à mosca livrar-se de água a mais vinda no sangue.
Além do tripanossoma, a família da mosca tsé-tsé também inclui a bactériaWigglesworthia glossinidia e os cientistas também sequenciaram o ADN dela. AWigglesworthia glossinidia tem uma relação de simbiose com a mosca tsé-tsé: genes da bactéria sintetizam a vitamina B, que por sua vez é utilizada pela mosca. Esta bactéria vive em células do tubo digestivo da mosca e é transmitida da mãe mosca para a larva filha.
Ao contrário da maioria dos insectos, a mosca tsé-tsé não põe ovos: produz um único ovo que fica a crescer no seu interior, alimentado uma espécie de leite produzido pela mãe, até atingir um certo nível de desenvolvimento e a larva nascer. O estudo genómico permitiu aos investigadores identificar muitas proteínas desse leite. Segundo o artigo daScience, “a combinação das proteínas do leite da Glossina é, a nível funcional, notavelmente parecido com a combinação existente no leite dos mamíferos”.

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