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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

04/09/2013 Jornal brasileiro O Globo admite que errou ao apoiar o golpe militar de 1964

Jornal brasileiro O Globo admite que errou ao apoiar o golpe militar de 1964

A repressão que se seguiu ao golpe militar e a capa do Globo de dia 2 de Abril de 1964 DR
Escrevia-se contra o perigo da "comunização" e chamava-se aos acontecimentos de 1 de Abril "Revolução". Nesse contexto o "erro" foi cometido e mantido 21 anos. No ano em que faz 88 anos, um jornal retracta-se
Os militares fizeram promessas e os jornalistas que mandavam no Globo acreditaram que a nação vivia "dias gloriosos". "Salvos da comunização que claramente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram dos seus inimigos".
No dia 1 de Abril de 1964, o golpe militar que instaurou uma ditadura que duraria 21 anos ainda era tratado por Revolução. Aplaudia-se a queda do Governo constitucional de João Goulart e os editorialistas, do Globo e não só (do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo ou do Jornal do Brasil), escreviam sobre o perigo em que o Brasil estivera de se tornar a segunda Cuba da América Latina.
"A verdade é dura. OGlobo apoiou a ditadura", diz agora o jornal que, no domingo, para assinalar 88 anos de vida, começou a revisitar a sua história (memoriaglobo.com.br). Em alguns episódios, como no apoio à ditadura ou na fraca cobertura que deu ao movimento Directas Já!, quando a ditadura definhava, o jornal, agora dirigido por Ascânio Selene, admite a culpa e contextualiza-a.
"O apoio de 64 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando o bem do país. À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro". A partir deste "desacerto original", outros erros se cometeram, diz a explicação.
À data do golpe era director do Globo Roberto Marinho, que, no 20.º aniversário do golpe, ainda mantinha que a "Revolução" fora essencial para a manutenção da democracia. "Mesmo sem retirar o apoio aos militares, [O Globo] sempre cobrou deles o restabelecimento, no menor prazo possível, da normalidade democratica", reconhece o jornal.
O Globo de hoje defende o seu antigo director: deu emprego a jornalistas de esquerda perseguidos pelo regime, acompanhava os jornalistas chamados para interrogatório "para evitar que desaparecessem", recusou fornecer nomes de suspeitos. "Cuide dos seus comunistas que eu cuido dos meus", disse Roberto Marinho a um ministro da Justiça.
A revolta militar de 1964 e o regime que se seguiu inspiraram outros países da região e o modelo ficou conhecido por "Doutrina da Segurança Nacional".
"A divisão ideológica do mundo da Guerra Fria, entre comunistas e capitalistas, reproduzia-se, em maior ou menor medida, em cada país. No Brasil, ela era aguçada pela radicalização de Goulart". João Goulart (ou Jango), herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas, era vice-presidente. Na época, havia eleições separadas para a presidência e vice-presidência. E num período histórico de crise e agitação política e social, os brasileiros escolheram um par improvável: um conservador da União Democrática (o grande inimigo do varguismo), Jânio Quadros, ganhou a presidência.
Hábil na intriga política, Jango preparou um golpe palaciano. Negociou a renúncia de Quadros, assumindo compromissos que o levariam ao cargo do outro mas que não pretendia cumprir. Tornou-se evidente que, como chefe de Estado, seria fiel à sua ideologia e ao sonho da reforma agrária e das nacionalizações. A Igreja Católica e a elite económica e burguesa foram rápidas a pedir aos generais que os "protegessem dos inimigos", como sintetizou O Globo.
"Fugiu Goulart e a democracia está a ser restabelecida", escreveu O Globo na primeira página do dia 2 de Abril de 1964. Os generais prometiam ceder depressa o poder, bastava organizar eleições, redigir uma Constituição plural.
A Constituição de 1946 foi, de facto, substituída por outra, em 1967. Mas muito restritiva. O Congresso foi dissolvido, as liberdades individuais desapareceram, a polícia e o exército ganharam poderes absolutos sobre os cidadãos e estes transformaram-se em suspeitos de um regime nacionalista e anticomunista. Os partidos e os sindicatos foram ilegalizados, nasceu a censura, a tortura e a prisão por motivos políticos.
A ditadura entrou em decadência nos primeiros anos da década de 1980 e a sociedade civil exigiu eleições Directas Já! José Sarney, um civil saído ainda do sistema de eleição indirecto, tomou posse como Presidente em 1985 - 21 anos depois da ilusão de Roberto Marinho, a democracia estava finalmente a ser restabelecida.
Dentro do Globo, diz o jornal, seguiram-se anos de debate. "A consciência não é de hoje, vem de discussões internas de muitos anos".
A AFP cita a direcção do jornal a fazer um outro acto de contrição: deveria ter assumido o erro de 1964 no passado mês de Junho, quando o povo se revoltou contra o esbanjamento de dinheiro no futebol. "As ruas deram-nos ainda mais a certeza de que a nossa avaliação interna era a correcta e que era necessário reconhecer o erro."

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