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quinta-feira, 21 de março de 2013

21/03/2013 Obra perdida de Klimt identificada com ajuda de cientista portuguesa


Obra perdida de Klimt identificada com ajuda de cientista portuguesa

Fresco do pintor austríaco foi encontrado numa garagem em 2012 e o seu estudo revelou uma assinatura escondida.
O autor de um dos beijos mais conhecidos da pintura, Gustav Klimt, tem estado na berlinda. No ano passado comemorou-se o aniversário dos 150 anos do seu nascimento, agora a investigação de um fresco redescoberto em 2012 indica que a pintura é do austríaco. Para se confirmar a autoria foi necessário recorrer a um aparelho desenvolvido há dez anos para as missões de robôs a Marte. Uma investigadora portuguesa esteve na Alemanha a trabalhar com este aparelho para identificar os pigmentos da tinta do fresco. O trabalho ainda não está finalizado, mas a equipa internacional já associou os pigmentos às tintas que o autor utilizava e descobriu uma assinatura de Gustav Klimt na moldura do quadro.
A polémica estalou em Julho do ano passado quando foi anunciada a descoberta de Trumpeting Putto, um fresco que mostra um querubim com um trompete. O quadro redondo, com mais de um metro de diâmetro, estava preso ao tecto do estúdio do pintor em Viena, no então império austro-húngaro, onde Gustav Klimt e o irmão, Ernst Klimt, viveram entre 1883 e 1892. Ernst morreu nesse ano, Gustav continuou a trabalhar na Áustria, teve sucesso em vida, e morreu em 1918, com 55 anos.
Muito tempo depois, no final da década de 1980, foi construído um elevador no prédio onde os dois irmãos moraram e o fresco desapareceu. Pensou-se mesmo que tinha sido destruído.
Em 2012, Josef Renz, negociante de arte austríaco, recebeu um telefonema de um homem a dizer que tinha encontrado o fresco na sua garagem, no Norte da Áustria, contava em Julho o jornal britânico The Guardian. O homem dizia que só recentemente se tinha apercebido da peça que tinha na sua casa. Renz estava convencido da autenticidade do quadro, mas Alfred Weidinger, um especialista na obra do pintor, não estava.
“Havia duas dúvidas”, conta ao PÚBLICO a cientista portuguesa Benilde Costa. “Por um lado, saber se o quadro era mesmo dos irmãos Klimt, por outro se era de Gustav ou de Ernst [que trabalhava em gravura mas também pintava]”, especifica a professora do Departamento de Física da Universidade de Coimbra.
Em Dezembro, Janeiro e Fevereiro, Benilde Costa esteve na Universidade de Mainz, na Alemanha, a tentar revelar o mistério. “Estava a trabalhar neste grupo em Mainz, com quem tenho uma colaboração, e era eu a pessoa que conseguia fazer as análises de espectroscopia de Mössbauer”, diz a cientista de 51 anos. É com esta técnica que ela estuda novos nanomateriais, as propriedades de ligas metálicas, a composição de meteoritos caídos na Terra ou as condições em que ânforas romanas com 2000 anos foram cozidas. Pela primeira vez, aplicou a técnica para resolver um mistério da arte.
Assinatura do lado de trás da moldura
A espectroscopia de Mössbauer serve-se da radiação gama para conhecer as propriedades de um material: um feixe de raios gama atinge o objecto, as suas moléculas absorvem a energia e emitem uma nova radiação que é detectada pelo espectrógrafo. O aparelho lê as assinaturas das moléculas e revela assim a composição dos materiais. É prático mas destrói a amostra, porque na maioria dos instrumentos ela fica entre o aparelho que emite o feixe e o detector — algo impossível no caso do estudo de uma obra de arte.
Mas em 2003 a universidade alemã desenvolveu um espectrógrafo portátil encomendado pela NASA para as aventuras marcianas dos robôs da agência espacial norte-americana: primeiro o Spirit e o Opportunity, lançados em 2003, depois o Curiosity em 2012, que foram analisar o solo de Marte. Cá na Terra, o instrumento revelou-se útil, como acontece com tanta tecnologia desenvolvida para a exploração espacial. O emissor da radiação e o espectrógrafo estão reunidos no mesmo aparelho e, neste caso, analisaram pontos do fresco sem o estragarem.
Os resultados preliminares, diz-nos a cientista, mostram que os pigmentos do quadro são óxidos de ferro e do mesmo tipo que Gustav Klimt usava na altura. O pintor tinha uma técnica diferente da do irmão.
A equipa, que reúne investigadores da Universidade de Hanôver, na Alemanha, e da Universidade de Valladolid, em Espanha, verificou ainda que havia uma assinatura de Gustav Klimt do lado de trás da moldura de madeira do quadro.
“Conseguimos ver a assinatura com uma técnica de fluorescência”, diz Benilde Costa. O artista teria pintado a moldura com uma camada de tinta branca, depois assinou-a e por fim terá dado mais uma demão na moldura antes de pôr o fresco no tecto.
“Todos nós dizemos que, para já, o fresco é de Gustav”, refere a cientista. Mas a informação definitiva só estará completa quando os dados das universidades envolvidas forem comparados e nenhum se contradizer. O fresco foi analisado por mais duas técnicas diferentes. “Só vamos ter toda a informação em Julho.” Em Setembro, os resultados serão apresentados na Croácia, numa conferência.
A investigação revelou também que a obra sofreu um restauro após a Segunda Guerra Mundial. O espectrógrafo de Mössbauer consegue analisar duas camadas de tinta a profundidades diferentes. “A camada de cima foi pintada no pós-guerra devido à idade do pigmento”, diz Benilde Costa. A obra, que está na Alemanha, irá ser restaurada e depois vendida em leilão.
 

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